21 de jul. de 2010

Nudez: Estado laico x Cristianismo x Naturismo Fiel – Parte I

Importante registrar a origem, no Brasil, do preconceito em relação aos órgãos genitais.

No Brasil, os índios viviam nus. Logo, era a cultura dos primeiros brasileiros.

Ocorre que, com a chegada dos portugueses aqui, juntamente com os missionários da Igreja Católica, logo estes passaram a impor neste país os valores cristãos.

Abaixo veremos alguns trechos do livro “Sexualidade, Controle Social e Práticas Punitivas”, escrito por Roberta Duboc Pedrinha, que bem retrata tal prática.

Quanto à origem da punição à nudez, vejamos trecho do mencionado livro que transcreve partes da Bíblia Sagrada:

“Adão e sua mulher estavam nus e não se envergonhavam”. Tampouco existia o pecado.

“Mais tarde, conforme descrição bíblica, a serpente – o animal mais astuto da terra – tentou a mulher, para fazê-lo comer o fruto proibido. A serpente alegou que não existia morte e que tanto a mulher quanto o homem seriam como deuses, conhecedores do bem e do mal. A mulher convenceu-se de que deveria provar o fruto, em seguida, persuadiu o homem a experimentá-lo com ela. Desse modo, ambos comeram. ‘No mesmo ponto se lhe abriram os olhos, e ambos conheceram que estavam nus, e tendo cosido umas com outras, umas folhas de figueira, fizeram delas umas cintas’. Em razão disso, em conseqüência do pecado cometido, ficaram constrangidos e envergonhados. Assim, a nudez e o sexo passaram a se identificar com o pecado e vergonha. Daí, a necessidade dos trajes.”.

“Deus interpelou Adão, o qual se encontrava escondido, com medo, acabrunhado diante do seu pecado, de sua nudez e do seu sexo. Cumpre destacar que a vergonha do corpo despido representou a ocorrência do pecado original e marcou o primeiro crime cometido pela humanidade. O primeiro crime do mundo foi realizado por uma mulher e ofendia a sexualidade. Assim, em um primeiro momento, Deus designou a aplicação das práticas punitivas: amaldiçoou a serpente, depois puniu a mulher; multiplicando-lhe as dores do parto, subordinando-a ao poder e à denominação do marido, e, também castigou este último, impondo-lhe a necessidade do trabalho. ‘Fez também o senhor Deus a Adão e a Eva umas túnicas de peles e os vestiu com elas’. Por fim, Deus os expulsou do paraíso, passaram a usar roupas, para cobrirem o sexo, a vergonha e o pecado. Daí a noção originária do pecado, atrelada ao desejo de não apenas esconder, como fazer desaparecer o sexo e a natureza perigosa da mulher. Ancorado nesse contexto adveio o medo do castigo vindouro, aplicado por um Deus vingador e retributivo, que impregnaria a sociedade”. (Págs. 40/41).

Destaca-se que o Poder Judiciário brasileiro não age com neutralidade. Exemplo disso, é a sentença de um juiz de Sete Lagoas (MG) que declarou a inconstitucionalidade da Lei Maria da Penha, citando a BÍBLIA, e ainda, de forma preconceituosa. Escreveu ele na sentença:

"Ora, a desgraça humana começou no Éden: por causa da mulher, todos nós sabemos, mas também em virtude da ingenuidade, da tolice e da fragilidade emocional do homem (...) O mundo é masculino! A idéia que temos de Deus é masculina! Jesus foi homem!".
(http://www1.folha.uol.com.br/folha/cotidiano/ult95u338430.shtml).

Mas tal reportagem será transcrita em outro tópico. Mas deixamos claro que esse juiz ainda assumiu na sentença que são seus valores religiosos cristãos que foram levados em consideração no julgamento. A pergunta que fica é: e quantos juízes julgam com tais valores, mas não os mencionam na sentença?
Por isso não podemos aceitar julgamento contra a nudez pública, haja vista que é o preconceito que fala mais alto.

Já quanto às punições da Igreja, menciona o livro de Roberta Duboc Pedrinha:

“Cumpre lembrar que as Visitações do Tribunal do Santo Ofício ao Brasil, embora não tenham atingido diretamente a um número elevado de pessoas, deixaram marcas na sociedade brasileira. Pois, a atuação da Inquisição favoreceu a mentalidade preconceituosa, propiciou o clima de suspeição, disseminou o medo. O papel desempenhado pelo Santo Ofício estimulou a delação dos amigos, fez vir à tona o espírito de delator, organizou a repressão a categorias de indivíduos mais vulneráveis na comunidade, em razão da intimidade, da opção sexual, da crença. A Inquisição propagou o modelo punitivo, incitou o ódio ao outro, elevou a intolerância enquanto valor. A influência da instituição foi, como se vê, simplesmente assustadora”. (Pág. 89).

Continua no próximo tópico... (Parte II)

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